quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CENTRO DE CIRURGIA DE AMBULATÓRIO DO CHC

A leitura do Plano de Actividades 2009 leva-nos a pensar na ligeireza com que se fazem planos de acção e na fragilidade da sua argumentação e justificação.

Estou a referir-me à convicção com que se anunciou o projecto e se iniciou a construção do Centro de Cirurgia de Ambulatório. Não é dada qualquer explicação qualificada quanto às infra-estruturas, quanto aos recursos humanos nem quanto à aplicação do dinheiro; uma vez escrito no Plano Estratégico não é preciso dizer mais nada.

Procedeu-se assim a um investimento de dois milhões de euros acrescidos de quase 50 mil euros do respectivo projecto, sem se explicitar a necessidade daquele Centro, nem a razão pela qual acontece. Quando sabemos que o actual bloco operatório é recente, que tem salas dedicadas ao Serviço de Urgência e que para além disso tem uma utilização que se aproxima dos 60%, ficamos sem saber quais foram os pressupostos de gestão que aconselharam um investimento de retorno duvidoso (ou pelo menos não explicitado). É um facto que a cirurgia de ambulatório está na moda, que é economicamente mais vantajosa, que é socialmente mais ajustada à nossa realidade. A todas estas vantagens acresce a interessante rentabilização dos recursos instalados e do capital humano disponível (na situação actual poderia funcionar como um produto de linha branca quando comparado com um processo produtivo industrial).

Muitas dúvidas ficam quanto à opção de investimento numa actividade marginal à linha de actividade hospitalar, sem um estudo económico adequado (numa instituição que acumulou défices de exploração nos dois últimos exercícios).
Saberão eles dizer qual é o tempo previsível para o retorno do investimento? Qual é a margem financeira que este "negócio" vai libertar (incluindo naturalmente a amortização do equipamento)? Qual é a margem unitária e qual é o número necessário de cirurgias para garantir o pagamento dos custos de financiamento? Temos contractualização suficiente para assegurar, pelo menos, o equilíbrio entre custos e proveitos?

A ausência de resposta a estas dúvidas é tanto mais grave quando temos consciência de que o actual bloco poderia ser melhor utilizado, sem perder a produção cirúrgica mais qualificada (mais bem paga). Sabemos que esta utilização acrescida poderia gerar dificuldades na gestão logística dos utentes que precisariam de espaço para o pré e o pós operatório; no entanto o custo deste espaços seria consideravelmente inferior ao de um novo Centro de Cirurgia de Ambulatório.

Para além da questão das infra-estruturas falta falar dos recursos humanos. Não tenho a certeza de que os cirurgiões estejam entusiasmados com a cirurgia de ambulatório. Sabemos que a resistência à mudança é habitual, no entanto também se sabe que os técnicos mais qualificados "obedecem" melhor às atitudes pedagógicas que às atitudes autoritárias. Por isso é que há lideranças e há chefias (o que não é a mesma coisa) a mim parece-me que em todo este processo tem havido pouca liderança.

A unanimidade não existe mas é possível conciliar interesses de diferentes grupos profissionais, com diferentes motivações (financeiras, formativas, intelectuais, de investigação) para o fim comum que é a saúde da população que servimos.

1 comentário:

  1. Pois é, julgo ter feito demasiadas questões... é que quem deveria responder, temo não terem essa capacidade.
    Temo também que com cirurgias menos "qalificadas" se perca a escola e a idoneidade de que tanto se fala. é que aquilo que à primeira vista parece apetecivel por ter um sabor bem amargo.
    Concordo também quanto à restruturação do bloco, é que estamos a pagar os "remendos" que temos vindo a fazer na nossa instituição, lembrem-se que o espaço dos cuidados instensivos inicialmente estava previsto pertencer tambem ao bloco, desde sempre julguei que seria mais correcto fazer um bloco dotado das devidas infra-estruturas (circuitos sujos e limpos adequados, vestiários, etc...etc..) do que inventar espaço para mais um serviço. Não seria preferivel, construir um novo espaço para albergar a UCIP do que agora andar a "inventar" espaço?
    O que vão inventar seguidamente?
    Algo será... já estamoa habituados a remendos.
    Há uma necessidade imperiosa de planear as coisas a lomgo prazo, mas que seja longo...
    Espero que o novo CA seja capaz de fazer este planeamento.

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